quinta-feira, outubro 1

"E ninguém reparou"

"(...) reparei como a sombra de um poste telefónico se deslocava entre os jardins de duas casas ao longo de várias horas, desde o almoço até ao fim da tarde. Depois de observar este processo algumas vezes, fiz as contas: o movimento da sombra, de um jardim até ao outro, significava que ambas as casas, o poste telefónico, a rua, todos nós, viajáramos mil cento e sessenta milhas em torno da terra com o rodar do planeta. Também tínhamos viajado aproximadamente setenta e seis mil milhas pelo espaço em torno do Sol no mesmo período e muito, muito mais no âmbito da espiral mais vasta da Galáxia. E ninguém reparou. Não há imobilidade, apenas mudança. O aqui de ontem não é o aqui de hoje. O aqui de ontem está algures na Rússia, num deserto do Canadá, é um azul profundo algures no meio do Oceano Atlântico. Está por trás do Sol, no espaço, centenas de milhares, milhões de milhas atrás. Nunca é possível acordarmos no mesmo local em que adormecemos. O nosso sítio no Universo, o próprio Universo, tudo muda mais e mais depressa a cada segundo que passa. Todos e cada um de nós neste planeta nos movemos para diante, e nunca, nunca voltaremos para trás. A verdade é que a imobilidade é uma ideia, um sonho. É o pensamento de luzes amistosas e acolhedoras que ainda brilham em todos os locais que fomos obrigados a abandonar."

Steven Hall in "Memória de Tubarão"

2 comentários:

Morcegos no Sótão disse...

Texto lindíssimo. É a verdade simples. =)

MJNuts

Pintas nos Olhos disse...

É não é? eu estava a ler isto e fiquei: baah! Meu deus lindo! Tenho que postar isto. Pões-nos a pensar...