"O homem lúcido sabe que a vida é uma carga tamanha de acontecimentos e emoções que nunca se entusiasma com ela, assim como ele nunca teme a morte. O homem lúcido sabe que o viver e o morrer são o mesmo em matéria de valor, posto que a Vida contém tantos sofrimentos que a sua cessação não pode ser considerada um mal.O homem lúcido sabe que é o equilibrista na corda bamba da existência. Sabe que, por opção ou acidente, é possível cair no abismo a qualquer momento, interrompendo a sessão do circo.
Pode também o homem lúcido optar pela Vida. Aí então, ele esgotará todas as suas possibilidades. Passeará por seu campo aberto e por suas vielas floridas. Saberá ver a beleza em tudo. Terá amantes, amigos, ideais. Urdirá planos e os realizará. Resistirá aos infortúnios e até mesmo às doenças. E, se atingido por algum desses emissários, saberá suporta-los com coragem e mansidão.
E morrerá o homem lúcido de causas naturais e em idade avançada, cercado por filhos e netos que seguirão a sua magnífica aventura. Pairará então, sobre a memória do Homem Lúcido uma aura de bondade. Dir-se-á: aquele amou muito, aquele fez muito bem às pessoas.
A justa lei máxima da natureza obriga que a quantidade de acontecimentos maus na vida de um homem iguale-se sempre à quantidade de acontecimentos favoráveis. O homem lúcido porém, esse que optou pela Vida, com o consentimento dos Deuses, tem o poder magno de alterar esta lei. Na sua vida, os acontecimentos favoráveis estarão sempre em maioria. Porque esta é uma cortesia que a Natureza faz com os homens lúcidos."
Tradução livre de um texto Caldaico(*) do VI século a.C. que aparece também na cena final do filme "Separações" de Domingos de Oliveira. Deixo-vos com o vídeo:
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