quarta-feira, junho 8

"Coração não é tão simples quanto pensa. 
Nele cabe o que não cabe na despensa." 

A Banda Mais Bonita da Cidade

sexta-feira, abril 29

"Por qué no dice nada?"

Porque temos um Presidente da república que só fala ao país pelas redes sociais. Então e quem não tem internet? Um perfil de Facebook? Então e o meu avô de 80 anos? E os seus vizinhos que moram ali numa aldeia pequena nos arredores de Castelo Branco?


domingo, abril 10

O Pescador

Há uns tempos no centro comercial Fonte Nova, estava um senhor velho sentado num pequeno muro central de uma fonte, daquelas que decoram as "praças" centrais dos espaços públicos comercias.

Ao passar por ele vi que era louco. Sozinho, reclinado para baixo, mexia no ar os braços como que a puxar alguma coisa. E seleccionando essas mesas coisas, punha algumas de parte, ao seu lado em cima do pequeno muro. Toda a gente que passava por ele, olhava com aquele ar de quem vê um maluco que está perdido. Eu olhei também. Mas pus-me a pensar onde estaria aquele velho na verdade?

Pelos movimentos dos seus braços, imaginei-o como um pescador, numa paisagem à beira-mar com um velho barco de madeira colorido, queimado pelo sol a seu lado. Ele estava a recolher redes de pesca, e ia seleccionando as boas das más. Na minha cabeça, a paisagem do centro comercial, progressivamente começou a transformar-se na praia, dando lugar à areia onde estava o soalho do chão, e o muro onde o velho estava sentado era agora uma rocha. O segundo piso de lojas abria-se em céu azul claro e brilhante.

Não pude deixar de imaginar o que ia na sua cabeça. Nós os que passávamos, e olhávamos incrédulos estávamos tão somente naquele centro comercial e dali não podíamos sair, era essa a nossa realidade. Estamos presos a ela. Mas o velho, o velho estava a viver noutro mundo, noutra realidade. E estaria também a viver a nossa?

Essa foi a questão que me acompanhou enquanto me afastava. Terá ele acesso às duas realidades? Terá acesso a mais de duas, alias? Ele é que está bem pensei eu. É pescador, e é um velho no centro comercial nos seus momentos de lucidez. Nessa altura, apeteceu-me sentar ao seu lado e ajudá-lo a recolher aquele monte grande de redes emaranhadas. Estaria ele grato por isso? Teria alguma consciência do que estaria eu a fazer? Sentiria a minha compaixão por não o deixar ali sozinho, aos olhos discriminadores dos outros, a recolher redes?

Gosto de malucos, vejo-os como seres fascinantes, nunca se sabe o que vai ali dentro, e podem ser tantas, tantas coisas. Mas o que acho mais interessante é a liberdade que têm. Podem estar, ser o que quiserem, onde quiserem e simplesmente voltar.

sábado, março 12

segunda-feira, fevereiro 14

Porque merece.

Para quem ainda não viu, e mais do que ver, ouvir. Querem músicas de intervenção? Esta arrepia, porque é crua e tão somente assenta na verdade.




Cantada em plena liberdade de expressão e comparada aos "Vampiros" de Zeca Afonso. A força da analogia diz tudo.

quinta-feira, janeiro 6

Regresso demorado

Serve este meu regresso repentino, e super atrasado para retornar aos primeiros tempos deste Blog. Bem sei que se por ventura alguém lê o Estômago Vertical, não estarão certamente aqui desde o início.

O tema é repetido como poderão ver aqui. Vou falar-vos (mais uma vez) sobre as TED Talks. Estas mesmas que serviram de base para o meu primeiro post de todos. O que são? Deixem-me deixar-vos com um excerto do passado, palavras minhas em repetição, que servem para vos deixar com um contexto:

"Ideas Worth spreadding é o slogan das TED que é excelente e bastante representativo. As TED (Technology, Entertainment, Design) são conferências que acontecem todos os anos nos Estados Unidos, e onde se fala de TUDO! Tudo mesmo. Apesar de inicialmente serem dirigidas às áreas da tecnologia, entretenimento e design, por esta altura as TED falam sobre muito mais do que apenas gadgets tecnológicos. E devo dizer que é muito interessante.

Até bem há pouco tempo, as TED (como eu tão carinhosamente gosto de as chamar, e para mim eles são meninas, há quem lhes chame o TED) faziam parte de uma comunidade fechada à malta das tecnologias, nerds da multimédia, cinema, engenharia e aos mais conceituados designers e pensadores do mundo. No entanto, derivado das maravilhas da internet, as TED estão agora ao dispor de TODA a gente. Existe o site oficial claro: www.ted.com, e existe o canal no Youtube das TEDtalks."
E porque vos estou a falar disto de novo? Porque agora, além de poderemos ver as conferências pela internet, elas estão a passar na Sic Radical (Hell yeah!). Iniciativa que só posso louvar, vindo de uma canal que tem vindo a crescer e a desenvolver a sua estratégia claramente jovem, radical e alternativa. A sua programação tem vindo a tornar-se para mim cada vez mais útil, mais pertinente e de qualidade. E por isso escrevo hoje em jeito de retorno, só para lhes agradecer e congratular a escolha programática tão inteligente.

As coisas acontecem de forma engraçada. Estava eu no meu novo ginásio a descobrir as maravilhas das máquinas com televisão e canais da TV cabo quando paro na Sic Radical, simplesmente por não conseguir mudar de canal e voilá! TED Talks a dar. Valeu a pena ir ao ginásio só por isso, e andar na passadeira...

Em jeito de reminiscência, como aliás tem sido todo este post, deixo-vos com a minha TEDTalk favorita. A senhora Elizabeth Gilbert está na ordem do dia, talvez agora já muitos de vocês a conheçam melhor. É a autora de Eat, Pray, Love (Comer, Orar, Amar), aquele livro que agora tem um filme de mesmo nome com a Julia Roberts e o Javier Bardem. E não julguem já esta TED por esta apresentação, não se fala praticamente do livro, mas sim do processo criativo. Vale mesmo a pena ver, a sério tentem. Nem que seja para não sofrer a duplicar por mais uma tentativa falhada de dar a conhecer ao mundo este fantástico momento de 18 minutos.




Para os interessados, podem ver os nomes dos oradores e as temáticas das conferências aqui.

segunda-feira, outubro 4

Poetas Andaluces

Primeira Música do Dia (04/10)

Quando era miúda, enquanto os meus amigos e colegas ouviam a Cidade FM, eu destacava-me da típica adolescente porque ouvia a Nostalgia, o agora Radio Clube Português. Não me recordo bem se foi nos tempos da Nostalgia ou se do RCP, mas lembro-me de uma época em que passavam esta música com alguma regularidade. Não é propriamente uma música que agrade a um jovem, sendo que se trata de uma música revolucionária espanhola. E sim, eu ouvia isto e adorava. Foi sempre uma música da qual não me recordava, à qual não ouvia por livre vontade, mas sempre que ela regressava, me fascinava e encantava. Porquê? Não sei bem, mas tenho queda para este tipo de coisas.
A tão característica musicalidade de revolução é sempre chamativa, apesar de na altura não perceber nada do que a música me dizia. Penso que este tipo de canções acabam por ser transversais a todos, ultrapassando as barreiras linguísticas, culturais, chamando as emoções. Já todos os povos viveram momentos desses, há sempre algo com que nos podemos identificar naqueles tempos antigos e que tanto marcam as gerações de hoje. É uma música "à 25 de Abril", pensava eu. Acho que são as vozes do coro em repetição lá atrás, sempre no mesmo ritmo, que mais me fascinam, é o que dá força à música.

"Poetas Andaluces de Ahora", interpretada pelos Agua Viva, a letra é um poema de Rafael Alberti, um importante escritor e poeta Espanhol que viveu 38 anos em exílio, devido ao regime Franquista.
Ora aí está música de revolução! Que história, para além daquela que conseguimos perceber pela letra, estará a música a contar? Sobre que pessoas, que vidas e que momentos? Esse misterioso significado, perdido no tempo, que está intrinsecamente ligado a este tipo de canções é o que realmente me cativa nelas. São nostálgicas, remetem para esse estado de espírito.
Eu sou nostálgica por natureza, e este tipo de músicas funcionam como íman para mim. É como se eu pudesse ficar parada ali naquele tempo, no passado, que é onde gosto de estar, onde sinto esse "estado melancólico causado pela falta de algo" mas que realmente não me falta, porque nunca estive lá na realidade, nunca foi meu.
Cada vez mais penso, o quanto o nome da rádio se adequava, às musicas e a mim. De uma rádio chamada Nostalgia vinham as músicas certas para uma rapariga nostálgica.

Fica a música e a letra em baixo. Espero que gostem.




¿Qué cantan los poetas andaluces de ahora?
¿Qué miran los poetas andaluces de ahora?
¿Qué sienten los poetas andaluces de ahora?

Cantan con voz de hombre, ¿pero dónde los hombres?
con ojos de hombre miran, ¿pero dónde los hombres?
con pecho de hombre sienten, ¿pero dónde los hombres?

Cantan, y cuando cantan parece que están solos.
Miran, y cuando miran parece que están solos.
Sienten, y cuando sienten parecen que están solos.

¿Es que ya Andalucía se ha quedado sin nadie?
¿Es que acaso en los montes andaluces no hay nadie?
¿Que en los mares y campos andaluces no hay nadie?

¿No habrá ya quien responda a la voz del poeta?
¿Quién mire al corazón sin muros del poeta?
¿Tantas cosas han muerto que no hay más que el poeta?

Cantad alto. Oiréis que oyen otros oídos.
Mirad alto. Veréis que miran otros ojos.
Latid alto. Sabréis que palpita otra sangre.

No es más hondo el poeta en su oscuro subsuelo.
encerrado. Su canto asciende a más profundo
cuando, abierto en el aire, ya es de todos los hombres