segunda-feira, maio 24

“I have looked into the eye of this island, and what I saw was beautiful”

Antes de mais, é para pôr esta música a tocar.



Primeiro é preciso nos perdermos para nos voltarmos a encontrar. A vida é peculiar, e segue a sua linha irónica. Tal como há quem pense que “não há coincidências”, para mim as ironias parecem ter ainda mais significado.

Há uma fase que está acabar. “O fim é sempre um bom princípio”. Essa fase está a acabar e parecia faltar um último elemento para a sua conclusão. Todos os astros se alinham de vez em quando. O culminar de alguma coisa é sempre único e espectacular, ainda bem que estou viva para sentir os culminares que houver para ver e participar.

O fim das fases tem um sabor agridoce. Agridoce nem sequer é a descrição. Agridoce é doce demais. Mas estava na hora, porque a hora certa é aquela que nos parece tão natural como necessária quando chega.

Eu sei que essa hora chegou. Estou preparada somente para aquilo que o meu interior me permite estar. Mas não tenho medo, as coisas não projectadas são as que mais têm importância. Aqui entra a ironia.

Acredito que na vida, nascemos e voltamos a renascer por várias vezes. Eu morri e renasci, mas as cinzas ficaram. A pessoa que vêem agora está viva. Eu assisti ao meu próprio cessar, e no entanto, eu reconstruí-me. A base é a mesma, nada se começa do nada, trata-se de uma acumulação. Há cinzas que ficam, outras que vão, as minhas cinzas já voaram quase todas. Umas vão por cá continuar, as outras hão de ser levadas pelo vento.

Chegou a ventania que me vai levar o último elemento, para "a biblioteca das recordações". É para lá que elas vão. Eu aceito, porque é a hora. E em jeito de despedida, escrevo.

Há quem não perceba a importância, diriam desmedida, que dou à minha série de sempre: LOST. Mas estão a ver só a superfície. É uma simples série, é uma história, é uma ficção. Tal como os livros. E como cada livro, tem que acabar. Lost está a acabar, e com ele também vai uma parte da minha vida. O ciclo completa-se, e tudo em aberto que ainda haveria por fechar do meu EU que cessou, será fechado. "Tudo o que for aberto, tem que ser fechado".

Agora que Lost vai acabar, estou completamente pronta para isso, porque agora também acabou a minha fase anterior por completo. Sou feliz e confiante, gosto de onde estou e quem me tornei. Lost começou há muito tempo a acompanhar-me, e por ironia, ou não, acaba agora para colmatar esta fase da minha vida. Vai ajudar-me concluir e a deixar de vez para trás aquilo que ainda me prendia. Era a ultima coisa da antiga Marta que ainda se mantinha. Quando for embora mais nada irá restar. E por mais triste ou penoso que isso possa parecer, já estava na hora. Por isso só tenho que agradecer, encarar o final como uma confidência e ironia que a vida me está a dar. É um pequeno sorriso que ela me dirige, um mimo, uma brincadeira.

Mas não estamos a falar de Lost pois não? É só uma mera série, é inegável a importância que teve na minha vida, quer a percebam ou não, não dá para fugir a isso. Daí a ter que ter este respeito pela série e eterno carinho. Porque fez parte de mim, é uma grande parte da pessoa que sou hoje. Não podemos fugir às nossas partes.

A série acompanhou-me durante 4 a 5 anos, os melhores e mais significativos da minha vida. Portanto, não, não é só de uma série que estamos a falar. É do que ela representa. Representam esse percurso extremamente enriquecedor, duro e de crescimento. Lost acompanhou-me, e trouxe-me muitos bons momentos. Distraiu-me dos meus problemas, fez-me sentir viva. E disso não me posso esquecer. Não posso desvalorizar. Quando falo de Lost não estou a falar de Lost, estou a falar do que essa fase foi, do que representou, do que aconteceu, estou a falar de mim. Era só isso que gostava que compreendessem.

Este post é a minha derradeira despedida, daquele Eu que cessou, do qual não tenho vergonha, que está agora guardado na “biblioteca das recordações”. Esse Eu faz parte de mim, e sempre fará, é graças a ele que sou quem sou hoje. Hoje quando Lost acabar, depois da mágoa da despedida vou chorar e fechar os olhos, e quando os abrir "Vou fazer parte de um mundo novo".

Para que percebam a grandeza da série, e como uma pequena homenagem da minha parte, ficam alguns registos fotográficos, gráficos acerca da Série. Mais uma vez é inegável a importância que Lost teve no mundo, vários foram os artistas (plásticos ou gráficos) inspirados pela série, e várias foram as peças construídas por eles. Fiquem com umas quantas (certamente haverão muitas mais) de cartazes feitos por designers gráficos sobre a série. Alguns deles, não me importava nada de os ter. Uns com registos sérios, outras em tom de brincadeira, vale a pena ver o que uma série de culto é capaz de fazer.


























Podem ver estes e mais posters, ou outro tipo de trabalhos aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

Segue-se a despedida a todos aqueles que cresceram dentro de nós durante 6 anos: os actores, as personagens. Afinal de contas foi por elas que tão fielmente seguimos a série até ao fim. Aquele grupo bem querido nos nossos corações, que tiveram que aprender a viver juntos “Live together, die alone”, que deram um significado completamente diferente ao “we have to go back” e ao “We’re not supposed to leave”. Porque “they were meant to be hear”.

Com muito carinho e saudades deixo-vos com umas quantas fotografias escolhidas por mim, que acho um amor. Algumas são muito fofas e deixam já um amargo aperto de saudade no coração. Servem para mais tarde recordar. Daqui a uns bons anos, vamos olhar para trás e ver estas mesmas fotografias e senti-las tão longe no tempo. A nostalgia irá certamente instalar-se e vai ser como estarmos a olhar para um álbum antigo de aventuras de amigos. Pelo menos é assim que eu vou olhar para elas.































Ai estes três... I'm gonna miss you.

"Todos nós perdemos coisas a que damos valor. Oportunidades perdidas, possibilidade goradas, sentimentos que nunca mais voltaremos a viver. Faz parte da vida. Mas dentro da nossa cabeça, pelo menos é aí que eu imagino que tudo aconteça, existe um quartinho onde armazenamos todas essas recordações. E a fim de compreendermos os mecanismos do nosso próprio coração temos de ir sempre dando entrada a novas fichas. Volta e meio precisamos de limpar o pó ás coisas, deixar entrar o ar, mudar a água das plantas. Por outras palavras, cada um vive para sempre fechado dentro da sua própria biblioteca." - Haruki Murakami, in "Kafka à beira-mar"


A minha “biblioteca” está pronta para receber mais uma ficha. Que esta vida de agora corra como tiver que correr até ter que cessar novamente. Quando chegar essa altura, uma nova despedida estará à minha frente, mas de todas as vezes que isso acontecer só vou precisar de dizer: "See you in another life brother".